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Hiperativos confessionais

Pensando nos prós e contras das relações interpessoais, lembrei que tenho de praticar escapatórias eficazes para quando encontrar aquele tipo de pessoa que mal te conhece e já vai derramando suas dores, alegrias, vitórias e derrotas em cima de você, sem consultar se você se importa ou se está com estado de espírito disponível. Eu não tenho espírito para isso, não. Se um dos objetivos dessas pessoas é diminuir suas tensões usando desse artifício, devo avisá-las que isso aumentam as minhas.

Quando é amigo você ainda regula, né,pede calma,chama para um chá,dá definições de saturação...mas quando são estranhos e ‘conhecidos de um instante só’,cuja relação não avançou além de cumprimentos curtos e rápidos,ou ainda pessoas que se acham seu amigo mesmo sem nunca ter conversado com você sobre os prazeres que as coisas simples proporcionam, aí queridões,podem começar a olhar estranho para si mesmos,se perguntando por que logo você o escolhido para tão angoniante tarefa.

As cenas com os que pensam serem amigos íntimos são sempre um déjà vu da primeira de sua vida:chegam, cumprimentam com o de praxe, olham para os quatro cantos e sem um pré-contexto,disparam as confissões de suas ultimas aventuras radicais como se você fosse o querido diário delas. Os estranhos ou apenas ‘conhecidos de um instante só’ preferem contar suas derrotas,seu atrazo na vida, e os mais caras-de-pau desse grupo acabam concluindo as histórias com uma lição que os fizeram ou os farão se reerguerem para a glória,te fazendo se perguntar então o por que de interpretarem 'o monólogo dos meus momentos amargos' se são tão bem servidos de otimismo.

Só sei que além de ser constrangedor ao extremo e super egoísta(da parte delas,claro), ser escolhido para interpretar um padre num confessionário, você ainda corre o risco de sair deprimido se o hiperativo confessional tiver realmente uma vida interessante. Se não, a gente sai deprimido por incapacidade de voz e vez, mesmo.

A parte divertida é que todo mundo percebe, menos os tagarelas nonsense, que só há um motivo para uma pessoa abordar todo mundo que mal conhece para usá-la como o seu apóstolo: fazer o maior número de pessoas saber o quanto sua vida é uma festa, o quanto ela é atraente, sortuda, admirada e invejada ou o quanto os seus problemas são trágicos, os seus dramas merecedores de atenção,o quanto ela é azarada,rejeitada e caçoada e suas virtudes e necessidades incompreendidas como as de ninguém mais.Ela quer porque quer ser o assunto da vez,nem que para isso tenha que ir até o chão.Não,sério.O que mais faria uma pessoa ser um livro aberto para todos os tipos de leitores se não almejar a posição de um Best-seller (de mérito duvidoso, claro)?

E já que na vida real não dá pra ser prático como na internet onde você tem barra de rolagem para avançar o texto e um xiszinho simpático para encerrar o assunto e ser feliz, eu fico aqui pensando em escapatórias eficazes contra esse povo esperto que parece sentir à distância,com a eficiência do faro de um cão policial,que sou uma boa vítima para as suas crises histéricas de 'eu preciso falar de mim'.

Alguém já disse: "Sábio é aquele que nunca desvenda todos os seus segredos." Desculpe,mas os meus queridos amigos hiperativos confessionais funcionam em rebelião constante à sua filosofia,sr 'Alguém'.

Danttas

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